sábado, 17 de março de 2012

87 - "Alta definição" em alta

Acabei de ver o "Alta Definição" com o Rogério Samora. Foi intenso, forte, directo, cru, nu. Foi uma entrevista do caraças. Por momentos pensei "bem, ele é actor, um bom actor, estará a encenar aqueles sentimentos todos para audiência?". Mas, como o próprio disse, aquilo seria logo visto como marketing, como estratégia e ficaria muito mal. E, assim, tivemos perante nós (dentro do que o ecrã permite, claro) alguém com muita coragem que se mostrou verdadeiro, sincero, sem se preocupar com o que os outros poderiam pensar de si. Os homens também choram e ele quis lá saber, chorou. As pessoas têm fraquezas na vida e ele admitiu e procurou ajuda, revelando sensatez. Muita gente toma medicação para dar um pequeno empurrão e ele quis lá saber de críticas de quem se diz muito forte, e sim, tomou medicação (ou ainda toma e isso não interessa nada). Tem problemas em confiar nos outros e disse, sem problemas, que os seus amigos eram menos que os dedos de uma mão, numa época em que todos vivem numa ânsia de colecção de supostos amigos, competindo entre si para ver quem tem mais no Facebook. Mesmo nem conhecendo realmente 1/3 deles!

E penso, o ser humano é algo realmente extraordinário, conhecer pessoas é qualquer coisa de outro mundo. As aparências iludem e não há nada tão errado como julgar as pessoas pelo que parecem ser. Sem nos esforçarmos para os conhecer. Claro que eu não poderia esforçar-me para conhecer o Rogério Samora, pois não tenho qualquer contacto com ele, mas também não devia ter pensado dele o que durante algum tempo pensei. E isto inclui qualquer outro tipo de pessoas, especialmente, as que vemos na televisão, revistas, jornais, as que nos entram pela porta dentro, parecendo que são nossas vizinhas, colegas, conhecidas, achando nós que tal permite fazer os juízos de valor que bem entendamos. Mas em particular, com o Rogério Samora, houve um pequeno acontecimento, um breve instante que me levou a construir uma imagem, toda uma personalidade, uma vida, assim do nada. E fiz mal. Um dia, ia eu na rua, na minha simples vidinha, quando passa o Rogério Samora por mim. E, com um ar de quem "posso, quero e mando" (pelo menos interpretei eu), piscou-me o olho e fez um sorriso do tipo "eu sou famoso e posso ter as raparigas que quiser" (pelo menos interpretei eu, novamente). Virei a cara e continuei a andar. Adolescente que era, podia ter ficado toda feliz e contente, aos pulinhos, por alguém conhecido dar por mim. Mas não: insegura que sou pus-me a pensar se estaria a gozar comigo, mas quem era ele para se "fazer" assim a raparigas no meio da rua, mas que convencido, deve ser um mulherengo de primeira, mas que estúpido...até hoje. E esse passou a ser o Rogério Samora. Sem sequer o conhecer. E tenho que pedir desculpa, claro! Não devemos julgar pelas aparências, devemos dar sempre o benefício da dúvida, nem mesmo com esta entrevista tão aberta o passei a conhecer. Contudo, desconstruiu-se o Rogério Samora que criei e passei a ter outra forma de ver as coisas. Se calhar ele só queria ser simpático com a rapariga de ar tímido que ia na rua.

Parabéns Daniel Oliveira (e Rogério Samora, claro!). Gostei muito!

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