domingo, 14 de abril de 2013

8 - Ajudemo-nos que bem precisamos!

Vi há pouco no telejornal da hora de almoço da SIC uma notícia que me deixou preocupada. Não era uma notícia de guerra, nem uma notícia sobre qualquer população em fome, porque, feliz ou infelizmente (e a televisão tem destas coisas) é algo que vemos com muita distância da nossa realidade: sabemos das situações de forma fria, afastada, elas existem, só que não é nada com a gente, como muitos dirão. E, na verdade, temos que nos dar por afortunados, pois não estamos em guerra; temos casos de famílias portuguesas a passar por grandes dificuldades, mas não vivemos num cenário de pobreza extrema, sem água ou alimentos básicos para a população. E assim vamos vivendo a nossa vidinha, permitam-me a redundância.

No entanto, e foi o que me chocou mais nesta notícia, ao lado da nossa vidinha pode não haver uma guerra, nem epidemias, nem seca, nem uma daquelas notícias terríveis que só vemos na televisão, mas há um outro que pode apenas precisar de uma mão. E se nos começa a faltar solidariedade para uma mão, tudo o resto é inatingível.

A notícia relatava um caso de um rapaz que foi assaltado por outros quatro, em plena luz do dia, à frente de outras pessoas, que terminou com um empurrão para a linha de comboio. O jovem caiu desamparado, magoando-se no ombro e, perante a dor lancinante, sentiu-se incapaz de reagir e de sair da linha. Creio que terá pedido ajuda, não percebi, e, conforme palavras do rapaz, foi a passividade e completa despreocupação das pessoas que o magoou mais... Acredito... Lá teve ele que sair da linha sozinho, antes que o comboio lhe passasse por cima.

Enquanto ouvia a notícia, pensava "Será que os portugueses estão a ser zombificados?". Sim, porque quem é capaz de ver alguém a pedir ajuda numa linha de comboio e não fazer nenhum? No momento do assalto, ainda tento compreender, há receio de represálias, que o ataque se vire para quem está a tentar salvar, embora ache que a união faz a força. Eles eram quatro e no comboio vinham mais pessoas pelo que, caramba, se todos se juntassem, bem que que eram obrigados a meter o rabinho entre as pernas e fugir!!! Mas não, cada um no seu canto, não é nada comigo, não vou meter a colher. E é por esta e por outras, que estamos no estado em que estamos. Valores como a solidariedade, o altruísmo, o espírito de entre-ajuda são, mais do que nunca, essenciais para realmente sobrevivermos. Sobrevivência, ah pois, porque hoje podemos estar bem, mas, meus caros, amanhã não. Ainda ontem à noite um senhor pediu-me dinheiro para comprar pão. Dinheiro eu já não tinha, mas tinha o pão na mão acabado de comprar e dei-lhe. Ele sentou-se e comeu satisfeito. Pareceu-me ver uma lágrima... O senhor não estava mal vestido, nem andrajoso, nem com barba de séculos por fazer. Era, simplesmente, alguém satisfeito a comer um pãozinho quente. E perante isto, quem se permitir a tal, enfrenta a dura realidade que, perante alguma adversidade ou azar da vida, pode ali estar do outro lado. Foi isso que senti.

E esta é que é a verdadeira questão: a questão do medo, visto que nem todos estão para olhar de frente para as coisas e preferem viver num mundo de ilusão, sem chatices, preocupações, nem complicações (mas com talões e cartões...!!!). Tal como as avestruzes, com as suas cabecitas enfiadas no buraco. Afinal, o medo paralisa; estando sempre a ser bombardeados com notícias de desemprego, de cortes, de emigração, de crimes cada vez mais violentos, chego, pois, à conclusão que nos andam a zombificar. Numa intervenção ouvida algures, deveras interessante, a historiadora Raquel Varela, dizia que o país tem medo dos pobres, pelo que a forma de controlar a população era por via do medo, exemplificando com o caso do jornal Correio da Manhã: a cada página, cada notícia violenta. Assim, fica tudo quietinho no seu canto, com medo e ais de horror, mas também sem reagir.

Só que, ora bolas, agora é que é tempo de reagir! Ainda pegando nas palavras de Raquel Varela, há bons exemplos de que afinal, quando a população se junta, faz coisa boa; veja-se a grande manifestação, sem grande violência, de 15 de Setembro, ou até o nosso 25 de Abril. E esta conversa toda veio a propósito de uma notícia de um rapaz que simplesmente pediu ajuda para sair da linha e não a teve. Se não damos a mão de ajuda, podem crer que nos vão é passar a mão...ou a perna, como diz o ditado...

(À espera de melhores dias...)

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